Nem tudo será como antes
Quando se fala em perdas, os conselhos costumam seguir na mesma direção: nada como o tempo... Concordo que o tempo é um dos maiores aliados no processo de superação da perda, mas somente o transcorrer do tempo não é suficiente para a elaboração desse decurso.
Quando perdemos algo, alguém ou uma relação, precisamos acionar e desenvolver o chamado luto. É um procedimento interno de aceitação de determinada privação, elaborado em sequências de ir e vir, de dias bons e ruins, de alternâncias de sentimentos de raiva, tranquilidade, tristeza, enfim, tudo isso oscilando em um só corpo. Não é fácil viver afetos tão intensos e muitas vezes desconfortáveis. Por isso, muitos preferem colocar suas dores “embaixo dos tapetes”, escondendo-as tão profundamente em si, que muitas vezes deixam de perceber o que sentem.
Essa pode parecer uma boa estratégia em um primeiro momento. Mas o fato é que deixando de viver o luto, corremos um sério risco: de ficarmos congelados no tempo. Ficamos presos no dia em que tudo mudou. Não conseguimos seguir com a vida, por não aceitar que o nosso mundo passou a ser outro. Na prática, o congelamento do tempo não traz a pessoa ou objeto perdido, apenas nos impede de viver as novidades do momento atual. Quem fica parado no passado, não vive o presente e não dá chance de ser surpreendido pelo futuro.
Nada será mesmo como antes. Porém, o agora e o depois podem, sim, nos trazer bons acontecimentos. É preciso entender que ocorre conosco (e com a vida) o mesmo que acontece com um vaso. Não tem como, após ser quebrado e restaurado, ficar sem marcas de rachaduras. No entanto, podemos construir novos - e até mais bonitos - objetos com os caquinhos...