Luto: porque é tempo de renovação
A vida é feita de encontros e desencontros. Portanto, ora ganhamos, ora perdemos. Claro que o fato da perda estar “dentro das regras da vida” não a torna mais fácil. Todos nós sabemos que nada nem ninguém são eternos, mas esse conhecimento não nos prepara para o fim. É sempre difícil nos separarmos de alguém querido, seja por divórcio, pela distância ou mesmo pela morte. Para tanto, faz-se necessário respeitar o nosso tempo de digestão, chorando diante das memórias, processando os traumas, elaborando a perda. Tempos de luto.
Porém, especificamente nessas circunstâncias, seguir com a vida não quer dizer que falta amor à pessoa perdida. Pelo contrário, permanecer no presente vivenciando apenas memórias passadas não é saudável para quem fica e, certamente, também não permitirá que o outro siga seu caminho. É importante ter em mente, principalmente em tempos de luto, que se concretamente não temos mais a pessoa amada, abstratamente, em nossa memória, a podemos recuperar de modo infinito. Grande parte da dificuldade da vivência e encerramento do luto deve-se ao fato de que, acada término de namoro, morte de um parente, ou despedida de um momento de vida, deixamos para trás um pouco de nós mesmos, um pedacinho do quebra-cabeça que nos constitui. A cada morte de alguém querido, momento ou relação morremos também.
Morremos porque esta morte nos marcará de alguma forma e jamais seremos como antes. Mas também renascemos. Renascemos porque inauguramos uma pessoa que ainda não fomos, com as dores e delícias da experiência. Assim, a morte traz a vida. E é somente se deixando morrer, vivendo o luto, que se pode renascer. Não viver o luto é não viver mais.