Escuta o que eu tenho para dizer
Muitas brigas acontecem, ou se prolongam, por falta de diálogo. Explico: em uma situação em que duas pessoas não concordam, tendemos a achar que a solução está em um dos dois abrir mão do que pensa, ou aceitar que está errado. Proponho uma estratégia mais assertiva: ambos podem apresentar seu próprio ponto de vista e enxergar o do outro.
Quando ouvimos o que o outro tem a dizer, sem nos preocuparmos em concordar ou em convencê-lo de que não está certo, temos a oportunidade de olhar a situação por outro ângulo, nem melhor nem pior que o nosso apenas,diferente. Dessa forma, contextualizando as atitudes do outro, podemos compreendê-las com mais facilidade.
É ouvindo um relato de uma infância dura, em que o choro tinha que ser deixado de lado para batalhar pela própria comida, que perdoamos a frieza de um pai. Sabendo que nossa mãe foi superprotegida, compreendemos o fato de ela achar que está nos presenteando quando diz para pegarmos um ônibus ao invés de nos dar carona. O que para mim pode ter sido considerado, durante toda a vida, uma negligência pode ser renomeado, recompreendido como um ato de amor.
É ouvindo o que o outro pensa, o que o emociona, o que o amedronta que podemos finalmente conhecer aquilo que se passa no interior de alguém de nossa convivência por anos. É possível conhecer mais profundamente uma pessoa com quem falamos apenas por uma vez do que um amigo que temos há 50 anos.
Muitas vezes temos um convívio intenso, mas a falta de um diálogo sincero não permite que saibamos o que de fato o outro espera. E essa é a origem dos mal-entendidos. Presumimos que o que nos agrada irá necessariamente agradar ao outro, e nos espantamos quando ouvimos que deixamos a desejar. “Mas como se eu faço tudo o que você quer?”. Você já perguntou e foi capaz de verdadeiramente escutar o que de fato ele quer?
Quando aprendemos que cada ser humano é único, com seus gostos e valores individuais, estaremos aptos a nos relacionar de forma saudável, respeitando as escolhas do outro. Escolhas que fazem parte de um processo único, impossível de ser julgado por quem não o vivenciou. Essa capacidade empática é a chave para uma porta que, caso apareça na sua vida, precisará ser destrancada: o perdão.