Casar ou comprar uma bicicleta?

Há algum tempo atrás, vivíamos diante de menos escolhas. Eram menos canais na televisão, a oferta de cinemas e filmes era menor e até mesmo nosso marido, se voltarmos um pouco mais no tempo, nem sempre podíamos escolher. As opções surgiram para a ge…

Há algum tempo atrás, vivíamos diante de menos escolhas. Eram menos canais na televisão, a oferta de cinemas e filmes era menor e até mesmo nosso marido, se voltarmos um pouco mais no tempo, nem sempre podíamos escolher. As opções surgiram para a gente como uma grande vitória. A associação era clara: quanto mais opções, mais liberdade. Começamos a escolher com quem casar, qual o regime matrimonial, por quantos anos se manter casada e, inclusive, se queremos ou não um dia casar. Parece o auge da liberdade...

Porém, pouco se pensa sobre a responsabilidade que vem acompanhada por essas escolhas. Quando vamos ao mercado comprar um suco, por exemplo, encontramos na prateleira todo tipo de sabor, alternativas com ou sem açúcar, com mais ou menos sódio, orgânico ou industrializado e assim por diante. Nos deparamos com uma necessidade de eleger um critério e, a partir disso, selecionar. Preferimos um em detrimento de muitos outros. Há, necessariamente, uma perda.

E é nesta perda que mora a responsabilidade. Antigamente, quando não tínhamos muitas escolhas, podíamos responsabilizar o mundo pelo o que nos acontecia. Voltando ao exemplo do casamento: se tínhamos um péssimo marido, podíamos constantemente reclamar de como a vida tinha sido injusta em nos impor aquele homem.

Essa mesma lógica de perdas e ganhos das nossas próprias escolhas faz parte de vários aspectos da nossa vida, como: se estamos gordas, cai sobre nós a responsabilidade de ter escolhido, diante de um mundo de alimentos saudáveis, o que engorda. Ou seja, o que seria o auge da liberdade é, na verdade, o auge da obrigatoriedade da responsabilização. As milhões de opções que vieram para nos ajudar acabam por nos confundir. Diante de tantos canais de televisão, ficamos confusos e muitas vezes paralisados. O que surgiu como ajuda, se não ficarmos atentos, nos atrapalha.

Para facilitar a escolha, considero extremamente importante termos clareza sobre quais são nossos valores e expectativas. Tendo isso em mente, só precisamos ponderar qual das opções está mais alinhada com o que valorizamos e queremos para nossa vida. Simples assim.

helena cardoso