Dói em mim quando dói em você

Canso de ver por aí pessoas que vivem para seus parceiros ou mesmo para seus pais. Dedicam suas vidas a amparar o outro, antecipam necessidades alheias e já providenciam uma solução. A eficiência é o grande orgulho que carregam. O mérito de suas vidas está em ser um excelente cuidador .

Entretanto, apesar do orgulho de agradar tanto e tão bem ao outro, essas pessoas comumente ficam chateadas ao perceber que não há retribuição, ou seja, não há troca nas relações apenas uma via de mão única. Dão muito e recebem quase nada. Quando escolhem dedicar suas vidas a alguém, não avaliam que há um preço nisso. E custa caro: ou esse alguém deverá ser eternamente grato, estabelecendo uma relação de dependência, ou o benfeitor irá se ressentir de que faz tudo pelo outro e não recebe nenhum reconhecimento.

O que há em comum nestas pessoas “altruístas” é que elas prestam tanta atenção nas vontades do outro, que deixam de ouvir suas próprias necessidades. Em geral, quando estão agradando ao outro, estão dizendo 'não' a alguma necessidade própria. Fazem tudo pelo outro, inclusive o que caberia ao outro fazer. Desta forma terminam por desenvolver uma relação de dependência mútua. Um não sabe fazer as atividades básicas sem a ajuda do outro; este não sabe viver para si, vive apenas para agradar àquele.

Entendo que possa parecer romântica esta estória de dedicar-se ao outro, porém, devemos perceber que mais bonito é reconhecermos nossos limites e nossas necessidades. Bonito mesmo é cuidar de si, para depois poder ajudar o outro. Para ajudar alguém, não precisamos nem podemos sempre resolver seus problemas. Não é realista tentarmos ser o super-herói que antecipa as dificuldades do outro, para nunca vê-lo sofrer. A gente certamente irá falhar nesta tarefa, e o outro fatalmente em algum momento da vida sofrerá. Mas, apesar de não podermos estancar todas as dores do outro, somos valiosos mesmo quando nada podemos fazer: somente ficar ao lado dele na dor, sem resolvê-la. Ser empático nada tem a ver com esta necessidade angustiada de solucionar os problemas alheios.

A grande prova de amor ao outro é poder suportá-lo nos momentos difíceis, inevitáveis da vida. Para isso, precisamos acolher as nossas necessidades. Somente estando bem é que posso ajudar inteiramente o outro em suas dificuldades. Cuido de mim para então poder cuidar de você.

 

 

 

helena cardoso