O seguro morreu de tédio

O Seguro era tão chato, que não tinha amigos. Está certo que ficar ao lado dele tinha algumas vantagens e, por isso, volta e meia aparecia um interesseiro. Eram amigos que usufruíam da sua estabilidade até o momento em que enjoavam e caíam fora dessa amizade. Diziam que sentiam a vida ao lado dele tão, tão confortável, que perdiam o conforto.

Seguro nunca entendia muito bem. Fazia de tudo para agradar os amigos, promovia um mundo previsível para cada um deles. Como é que alguém poderia rejeitá-lo? Quanta ingratidão... Foi então que Seguro, sentindo-se solitário sem seus amigos, perdeu a segurança. Aquela solidão era tão grande que ele nunca tinha sentido algo parecido. Ficou assustado. Se deixou tomar pelo desespero quando se deu conta de que estava completamente fora do controle. Estava sozinho, triste, sem amigos e angustiado com este cenário assustador. Não sabia o que fazer.

Ironicamente foi nesse momento em que Seguro estava na pior que antigos amigos voltaram a aparecer interessados na amizade. Ué, mas que estranho, logo agora que eu estou completamente fora do controle e não posso dar conforto a ninguém!

Seguro nunca entendeu o porquê, mas seus amigos diziam que ele andava muito mais divertido agora. Parece que a zona de conforto em que Seguro morava tinha mesmo uma sala confortável para receber as visitas. Porém, elas gostavam mesmo quando se esbarravam na rua por acaso e improvisavam um programa.

Seguro se mudou, saiu da zona de conforto. Agora tinha uma vida muito menos estável, mas se sentia muito mais vivo. Diziam que antes da mudança ele andava ranzinza, parecia um velho. Alguns acharam que se Seguro continuasse assim, ele morreria de tédio. Mas depois que Seguro saiu da zona de conforto rejuvenesceu. Dizem que nunca se viu Seguro tão feliz...

 

 

 

helena cardoso