O que eu ganho sendo assim?
Se por um lado existem circunstâncias que nos conduzem à paralisia e a vitimização, por outro existem questionamentos que podem servir como um remédio para nos curar. Quando nossa vida não caminha no sentido desejado e nos percebemos estagnados em determinada situação, muitos têm a tendência de se apegar ao sentimento de aprisionamento e impotência. Caem na armadilha da autopiedade. Essa funciona como um círculo vicioso: quanto maior a pena por si mesmo, maior a estagnação.
Para sair dessa lógica perigosa, gosto da seguinte reflexão: o que ganhamos agindo de determinada forma? Esse questionamento é importante para identificar não só nossos comportamentos de vitimismo, mas também as derivações desses. Digo isso porque mesmo as situações aparentemente ruins podem nos trazer ganhos secundários que, se não vistos de forma conscientes, podem nos prender ao desconforto vivido. Uma criança com o diagnóstico de dislexia, por exemplo, pode usar a doença para justificar sua dificuldade de estudar e, assim, jamais se esforçar para ir bem nas provas. Os pais acabam tolerando as notas baixas, por conta da dislexia. Desta maneira, a criança praticamente ganha o aval para não estudar. Não se sabe o que nasceu primeiro: a dislexia ou as notas ruins. Uma situação favorece a outra...
Para este cenário mudar, seria necessário a criança perceber que, embora tenha a “permissão” não dita para ir mal na escola, este aval não a favorece. Assumir que, mesmo com o obstáculo imposto pela dislexia, é possível, sim, descobrir formas para facilitar o estudo. Quando avaliamos o que estamos, de fato, ganhando ao nos mantermos em determinada atitude, apesar da nossa tendência ao comodismo, nossa inclusão e responsabilização pela própria história acontece e, aí sim, a vida muda.