Fome de quê?
Presume-se que comemos quando sentimos fome. Mas isso está longe de ser uma verdade sobre a prática do ser humano, em especial de alguns. O uso da comida vai além da nutrição porque vinculamos afeto aos alimentos. Não há quem não tenha em sua história de vida uma lembrança afetiva relacionada à alimentação. Pode ser desde o bolo da casa da avó até o tradicional prato da família. É aquela comida carregada de pertencimento.
Quando estamos doentes, por exemplo, costumamos recorrer a um prato específico. Pode ser a canja que nossa mãe fazia sempre que estávamos doentes ou o brigadeiro que nos damos o direito de comer, porque queremos nos confortar. São aqueles alimentos que muitas vezes não tem nada de nutritivo, mas que enchem a gente de afeto.
Algumas pessoas, por não conseguir conviver com alguns sentimentos, comem até o próprio corpo dizer chega. Comem por ter brigado com o namorado ou porque estão experimentando um momento de estresse no trabalho. Comem para tentar preencher um vazio, que jamais é preenchido. Desse modo, constroem um ciclo vicioso, pois, depois de comer além do necessário, sentem culpa. E, então, sentindo-se culpadas, comem. Porque não sabem como lidar com a culpa.
São pessoas que em algum momento difícil da vida usaram a comida como escape, para conseguir digerir afetos. Aprenderam, desde então, que a comida é uma “boa” saída para não “encarar” a situação. Tornaram-se compulsivos. Hoje, para sair desta enrascada, é preciso ter a coragem de assumir os sentimentos. Acontecimentos negativos e sentimentos ruins acontecem na vida de todos. O grande desafio é não nos deixar tomar pela angústia da sensação e aceitá-la. É preciso sentir, para perder o medo de não suportar. O primeiro passo é pensar, antes de comer, se estamos com fome de comida ou fome de afeto. Você tem fome quê?