Casar: a família vai na mala
Diferente do que costumamos pensar, quando casamos, não estamos inaugurando uma nova unidade, livre de qualquer influência. Casamento não é um carro zero, com cheiro de novo, bancos ainda plastificados e lataria sem nenhum arranhão. Ao contrário: o casamento traz toda a quilometragem das experiências de vida de cada um, dos hábitos e valores familiares.
Exatamente em função disso que, logo nos primeiros meses da vida a dois, começam a surgir os pequenos impasses do dia a dia. Influenciados pela ideia de almas gêmeas, acreditamos que o parceiro deve ecoar nossas aspirações e ideais. Como isso não acontece, em pouco tempo, as diferenças já aparecem e sentimos que não estamos em um bom caminho.
Essas oposições, no entanto, não significam uma crise, mas pontos de vista distintos, elaborados de acordo com o que cada um viveu e aprendeu em suas famílias. Um casal, diferente do que se supõe, não se constitui apenas por duas pessoas. São os dois mais as bagagens. Ninguém chega de mãos abanando. Na mala, cada um leva o que foi colhendo ao longo da vida: uma mãe, um filme, uma tia, uma professora, um avô, uma escola, um livro, uma religião, viagens, dores, aprendizados, histórias entre outros souvenirs que esteve disposto a carregar.
Mas, para casar, precisamos colocar tudo isso em uma nova mala: a do casal. Para carregá-la sem ficar pesada para nenhuma das partes, é preciso fazer escolhas. Algumas coisas vão, outras ficam. É preciso priorizar o que fica para também poder deixar espaço ao que virá. É preciso abrir mão de antigos apegos em nome da construção de uma nova etapa da vida. Casar torna-se então uma oportunidade para revisitarmos tudo o que andamos levando em nossas costas e para repensarmos, juntos, o que hoje ainda faz sentido e tem valor.