Carta para você

Nathalia nos escreveu pedindo ajuda sobre sua situação amorosa. Teve, em sua primeira relação, um trauma sexual. Desde então, guardou segredo sobre isso por medo e vergonha.

Recentemente começou a namorar e, enquanto desfrutava desta nova relação, foi surpreendida por uma queixa de seu namorado de que eles tinham afinidade em quase todas as áreas da vida, exceto na cama, onde, segundo ele, ela era frígida. Em seguida, ele terminou o namoro.

Nathalia, inconformada com este fim e com o pedido de uma segunda chance negado, percebeu-se desamparada e foi procurar terapia para, pela primeira vez, contar sobre seu trauma.

Ao longo das sessões sentiu necessidade de revelar este acontecimento passado ao ex-namorado a fim de retomar o relacionamento. Porém, ele não quis reatar o namoro, alegando que ela tinha que ter dito isso antes.

Achei importante compartilhar a dificuldade de Nathalia (que está aqui com um nome fictício) porque muitas mulheres também passam por questões sexuais e, principalmente, também deixam de revelá-las por vergonha. Sendo assim, escrevo para Nathalia, mas poderia ser para Amanda, Isadora ou Tatiana.

O caminho para estes casos é a mulher perceber que ela foi vítima naquele evento e que o trauma sexual envolvido deve ser trabalhado em terapia. Mas, apesar de naquele momento ela ter sido a vítima, ela não é sempre vítima. Não se deve generalizar aquele evento isolado para transformá-lo em sua identidade.

Aos poucos ela deverá ir se apoderando desse episódio como um fato que marcou sua vida, não como algo que a resume. Ela ter sido vítima em uma ocasião não faz dela vítima em todas as situações que vierem a ocorrer.

Para tanto, ela deve lançar mão da autoria de sua própria história e escrever, através de seu dia a dia, a vida que ela quer ter. Desse modo, ela só será vítima novamente se escolher ser. No caso da Nathalia, creio que ela tenha escolhido.

Contar para o ex-namorado sobre algo que ela nunca tinha contado a ninguém, não me pareceu ter sido uma escolha de autoproteção. Ela o fez como um ato desesperado para reconquistar o namoro, mas não ponderou que seu ex-namorado, por não ter mais nenhum vínculo com ela, talvez não fosse a melhor pessoa para saber. Até porque, caso eles voltassem a namorar, seria por compaixão pelo sofrimento de Nathalia. Não acho esse um bom início para o casal...

Nathalia, para deixar de ser vítima e tornar-se autora de sua história, deve deixar de manter segredo sobre o assunto, porém tendo muito cuidado na escolha de para quem irá revelar. Senão ela será vítima novamente, só que desta vez da fofoca.

 

 

 

 

helena cardoso